Medicamentos Referência, Genéricos e Similares. Como lidar?

Medicamentos Referência, Genéricos e Similares. Como lidar?

Medicamentos: Atualmente, em vista da crise econômica em que o nosso país se encontra, tenho recebido cada vez mais pacientes querendo comprar medicações genéricas, mas com dúvidas em relação à eficácia das mesmas. Será que o genérico é igual ao referência? E a famigerada medicação similar, será que ela pode ser usada com segurança? E qual seria o melhor, o genérico ou o similar? Vamos ver.

Os medicamentos referência desfrutam sem dúvida alguma de maior credibilidade entre médicos e pacientes. Essas são as medicações originais, são as primeiras a serem desenvolvidas e que trazem os primeiros estudos comprovando eficácia e segurança junto aos órgãos de saúde. O preço, normalmente, é o mais caro, pois traz consigo o valor dos estudos que foram realizados e também o valor dessa credibilidade. Aliás, em relação aos custos de pesquisa e inovação, os laboratórios que trazem uma medicação nova ao mercado ganham, no Brasil, o direito de explorar essa marca durante 20 anos. Sendo assim, durante esse período, o referência não poderá ser copiado por nenhum outro laboratório. Após esse período, os dados do desenvolvimento da medicação tornam-se públicos e outros laboratórios podem desenvolver a medicação.

Mesmo que durante esses 20 anos apenas um laboratório possa vender a medicação, ele não pode colocar o preço que bem entender no remédio. Existe um órgão regulatório chamado Comissão Interministerial de Preços que deve agir para que o preço não seja abusivo.

Em casos especiais, o governo pode decretar uma quebra de patente de uma medicação antes do período de 20 anos caso entenda haver um risco grande de saúde pública. Isso já ocorreu no caso de medicações para o tratamento da AIDS, por exemplo.

Os 20 nos passam a ser contados após o registro da medicação nos órgãos de saúde. Após esses 20 anos, as medicações podem ser “copiadas” e entram então as medicações genéricas e as medicações similares. As medicações genéricas devem ser idênticas ao referência. Devem ter a mesma dosagem e o mesmo comportamento farmacodinâmico da medicação original. A caixinha do genérico é aquela que você conhece, com a faixa amarela e o nome do princípio ativo.

E o similar? O similar nada mais é do que um genérico com marca. Ele deve ser também igual ao original, mas pode ter uma caixinha diferente, com um nome diferente e ter algumas outras diferenças, como dosagem e prazo de validade. A diferença entre o genérico e o similar me parece ser, em alguns casos, mais comercial do que qualquer outra coisa.

O medicamento similar tem uma reputação ruim porque, até 2003, a Anvisa não exigia pesquisas comprovando que eles eram cópias fiéis dos remédios de referência. Os fabricantes tinham apenas que comprovar que seus produtos atendiam a padrões de qualidade definidos em farmacopeias (que tinham a substância ativa na quantidade certa e que produziam de forma adequada), mas não precisavam apresentar os testes completos. No entanto, em 2003 a ANVISA passou a exigir estudos completos de bioequivalência aos similares e deu um prazo de 10 anos para que ocorresse essa adequação. Sendo assim, podemos dizer que a partir de 2013 todos os similares devem ser submetidos ao mesmo rigor dos genéricos. De qualquer forma, ainda há alguma controvérsia entre médicos em relação à medicação similar e alguns colegas médicos ainda preferem evitar medicações similares.

A ANVISA disponibiliza em seu site uma lista constantemente atualizada dos remédios referência, genérico e similar que são intercambiáveis entre si.

Em relação à escolha da medicação na farmácia, a medicação pode ser trocada da seguinte forma: se a medicação foi prescrita como genérica, ela pode ser trocada pela original, mas não pela similar, pois a intercambialidade deve ser feita entre a droga receitada e a sua referência. Mas sabemos que no Brasil, em alguns casos, pode haver alguma “facilidade extra” para troca de receitas em farmácias, o que é condenável.

Na minha opinião pessoal, eu tenho confiado em genéricos com frequência. Tenho receitado medicações anti-inflamatórias, analgésicas, corticoides, inibidores de bomba de prótons, procinéticos, anti-histamínicos e outros de forma genérica e tenho visto ótimos resultados. Ainda sou um pouco preocupado quando receito antibióticos. Acho que esse medo que eu e alguns colegas temos está mais relacionado à uma prudência em tratar da melhor forma possível uma doença que pode se tornar grave. Especialmente em casos de tratamento de infecções recidivadas, tendo a orientar os pacientes que, se possível, tomem o medicamento referência. Nestes casos oriento que, teoricamente, os genéricos devem ter a mesma eficácia dos originais, mas indico aquilo que faço aqui em casa, com os meus filhos, e, portanto, o que eu acredito ser melhor. Repito que expresso aqui minha opinião pessoal, que não reflete o posicionamento da classe médica.

Uma vez, quando eu ainda era residente, eu receitei uma medicação genérica ao paciente e ele não gostou. Perguntei o por quê e ele respondeu: “ora doutor, eu não abasteço meu carro em qualquer posto, vou tomar qualquer remédio?!”.

Acho que não precisamos ser tão radicais quanto esse paciente.

Cada paciente tem o direito de escolher a medicação do tipo que preferir. Converse abertamente com o seu médico sobre isso e, se preferir um tipo específico, informe.

“As informações aqui colocadas são de caráter informativo. Cada paciente possui suas particularidades e deve ser avaliado e tratado de forma individualizada. Se você tem algum problema de saúde, procure um médico especialista.”

Dr. Henrique Gobbo
CRM – 117688 SP